domingo, 29 de agosto de 2010

Bianca e os vaga-lumes

 
   Ando lento & alucinado pelo Parque Ibirapuera, horário indefinível, a tarde (ou noite) já desfalecida nos braços da noite (ou tarde)- relâmpago dos néons verdes entremeados às árvores - vejo Bianca, seus óculos escuros e a calcinha rosa brilhante, brincando com vaga-lumes apoiada num Ipê-amarelo. Siderado, ajoelhei aos seus pés - fiz em silêncio uma prece à Rimbaud - e subi pelas pernas longas roçando o meu rosto na pele tatuada de Bianca,  sentindo seu cheiro agridoce, velho conhecido cheiro do seu suor e do perfume  infernal que marca o quarto de Sil até hoje. Os vaga-lumes faziam festa ao meu redor, indagando meu rosto transtornado pela surpresa do encontro - aquela Vênus degradada dentro da noite quente. Encaro sua buceta, vejo todos os talhes marcando a pele fina do tecido, ela respirava, pulsava e dançava ali, de frente ao meu nariz ávido do seu cheiro. Sua mão de dedos longos, fortes, empurrava minha nuca de encontro a ela, o porto onde vários sonhos de outros alucinados morreram, foram assassinados, por aquele cheiro libertário & diabólico. Só então pude ter a sensação de surfar num relâmpago, da realidade fulminada pela beleza de uma teia de sonhos lisérgicos, pela buceta quente, quase elétrica, de Bianca. Uma das coxas caía no meu ombro e pude sugar toda a estensão daquela carne bruta,  que também parecia me chupar, pedindo que minha língua entrasse fundo, meu rosto, minha paixão, minha vida inteira ! Então Bianca propôs que partíssemos dali, levados por aquela nuvem mesma de vaga-lumes, e fôssemos conversar num boteco qualquer, disse que uma noite quente é uma dádiva, que minha boca é uma dádiva e eu já não existia, pois agora estava dentro dos seus olhos loucos...


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